terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobre a dança dos técnicos no futebol brasileiro e o caso do Arsenal




Estou estreando um assunto neste estabelecimento do qual eu já queria ter falado antes por aqui, mas que nunca tinha tido a vontade suficiente para concretizá-lo. Futebol é uma das minhas paixões, e eu gosto de acompanhar, além do brasileiro, os campeonatos da Inglaterra, da França e, mais raramente, da Alemanha e da Itália, nessa ordem de preferência.

Quando eu comecei a acompanhar o futebol inglês, graças à tv à cabo, fiquei encantado com a maneira interessante de jogar de um certo time, que destoava dos demais da terra da rainha. O time jogava com um belo toque de bola, quase nunca errado, tinha um entrosamento visível e um jogador de quem já era admirador, desde aquela famigerada Copa de 98 - Thierry Henry. Ok, eu sei que existem muitos outros jogadores melhores que o Titi, mas, nos seus tempos áureos no Arsenal, sua malícia e rapidez enchiam os olhos de qualquer apreciador de belas jogadas.

Num passado recente da temporada de 2004-2005, que foi quando eu me tornei um gunner, o Arsenal ganhara três campeonatos ingleses - 1997-1998, 2001-2002 e 2003-2004 - e quatro Copas da Inglaterra - 1997-1998, 2001-2002, 2002-2003 e 2004-2005. Cruzando esses dois resultados e comparando com o histórico de vitórias do time, veremos que, após cinco anos sem ganhar nada, na temporada de 97-98 o Arsenal voltou ao topo. Isso, claro, não acontece por acaso. Em 1996 chegava ao Arsenal um grande técnico, cujo nome parecia tê-lo predestinado ao time: Arsène Wenger.

Foi um treinador que deu resultado pouco depois de ter chegado, o que é raro de acontecer. Além disso, ele manteve o time num alto nível até, eu diria, 2006, quando o Arsenal perdeu a final eletrizante da Champions League para o Barcelona. Num campeonato bastante equilibrado, em que quatro equipes são contadas entre as melhores do mundo - Chelsea, Manchester United, Liverpool e o próprio Arsenal - isso é um feito admirável. Não é à toa que é considerado dos melhores treinadores em atividade na Inglaterra, junto com o dos diabos vermelhos, o também sensacional Alex Ferguson.

No entanto, fazem iguais cinco anos que o time de Arsène Wenger não conquista nenhum título. Nesse tempo, Wenger promoveu uma mudança radical no plantel, privilegiando os jogadores jovens e dispensando os mais velhos. Uma medida interessante para quem já estava com o cargo de treinador garantido pelo bom serviço prestado nos anos anteriores. Montar uma equipe jovem, com nomes cuidadosamente selecionados parecia ser a fórmula certa para colocar o Arsenal em primeiro lugar por muitos anos em todos os campeonatos que disputasse, assim que os jogadores ganhassem um pouco mais de experiência e o entrosamento que sempre encantou os olhos dos gunners.

No entanto, não foi isso que aconteceu. Não por causa da qualidade dos jogadores - temos ali vários realmente muito bons, como Fàbregas, Walcott, Nasri, Arshavin, Wilshere entre outros. Os jogadores que antes eram jovens estão ficando velhos, e os títulos não aparecem. Chegam às finais, mas perdem as partidas mais improváveis para times pequenos.

Eu sou defensor da maneira europeia de tratar o técnico, sempre dando a ele tempo para formar um time e tentar levá-lo às vitórias. Mas, ao que parece, o tempo do Arsène Wenger no Arsenal chegou ao fim e, nessa hora, é preciso abrir mão de certas ideologias, pelo bem do time e do próprio técnico.

Depois do jogo do final de semana passado contra o Blackburn, com quem o Arsenal empatou em 0x0 dentro do Emirates Stadium, penso que está na hora de mudar a cara do time, que não jogou mal, diga-se de passagem!, mas que não soube fazer nada mais além que trocar belos passes e fazer grandes jogadas que não resultavam em gol. Lembro-me claramente de um trecho do treino do Brasil na Copa de 2002 em que o Felipão brigava com os jogadores pela falta de objetividade: "Eu toco pra ti, tu toca pra, mim, eu toco pra ti, tu toca pra mim... e ali [no gol] nada?!" Não sou adepto do jogo pragmático nem da dança das cadeiras dos técnicos no Brasil; mas, quando um time parece acomodado por anos num único estilo de jogo, ficando previsível, não vejo outra solução que não a troca do técnico. No caso do Arsenal, para o bem do time - que tem jogadores com uma grande carreira pela frente - e para o de Wenger - que poderia muito bem assumir a Seleção Francesa, tão carente de um bom técnico.

Leonardo Ramos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O mural do Albergue não é quadro de mesa de sinuca. Pense antes de postar.